sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A batalha de Pirajá continua!

Motivado pelos amigos e admiradores de meu trabalho, coloquei no ar este blog do Corneteiro de Pirajá, não só para homenageá-lo mas também pra que possamos continuar lutando contra essa agressão proposta por alguns "artistas", que se sentem incomodados com a presença da peça de um cartunista nas ruas de Ipanema.
Retirar o Corneteiro dali não é uma agressão gratuita e descabida somente a mim, como artista, mas é uma agressão principalmente contra a cidade do Rio de Janeiro e a sua população.
Trata-se de um caso claro de segregação artística, um patrulhamento, uma violência sem precedentes contra a arte como um todo.

Não podemos deixar isso acontecer, e conto com todos pra que isso não aconteça.

O link do abaixo-assinado é: http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/4718
Assinem e indiquem para os amigos.

Estou republicando abaixo como tudo começou:







Fiquei emocionado num primeiro momento: Meu Corneteiro de bronze no alto, e a direita, na primeira página de O Globo. O espaço mais nobre de um veículo tão importante, que pode te levar aos céus. Ou ao inferno como foi a intenção da chamada para a matéria do Segundo Caderno.
Um desavisado que a lê pode até achar que é uma preocupação justa de meia duzia de "artistas" com o mobiliário urbano da cidade. Na totalidade da matéria vê-se claramente que é um retorno a carga, dessa pseudo-comissão, contra a minha peça e a mim especificamente, já que a Mazeredo eles conseguiram eliminar. Causou estranheza a repórter permitir o ataque unilateral sem sequer me ouvir.
Em primeiro lugar, por se tratar de uma atribuição que vai cuidar dos interesses coletivos da cidade, essa comissão não deveria ser eleita pela população como se faz com os governantes? Quem os elegeu, e os legitimou? No caso dessa tendenciosa comissão que reivindica o direito de julgar e classificar todos ao seu gosto e critério, foi nomeação. E a nomeação, ao que tudo indica, foi feita na calada da noite pela oposição ao então prefeito César Maia. Estamos falando de arte ou política?
Acho justo e louvável que se tenham sim critérios definidos para que uma peça vá para a rua, mas, qualquer que seja a comissão ela jamais poderá julgar e deteminar o que é arte ou não é. Eles, da onipotente comissão não são artistas também? O trabalho que eles realizam agrada a todos, ou é polêmico como toda a arte deve ser?
Já tentaram tirar o corneteiro uma vez e não conseguiram, como fazem questão de reforçar na matéria. Agora retornam para mais uma caça as bruxas como se fazia nos tempos da ditadura. E sem direito de defesa como manda a receita do totalitarismo. Para os amigos do rei tudo! Pro resto dos mortais, o rigor da lei. Lei obviamente criada por eles mesmos. E o que me espanta mais é que essa comissão é composta por "artistas", como eu. Que, provavelmente, já sentiram na pele os horrores da repressão e do preconceito do autoritarismo, mas ao terem o mínimo de poder nas mãos, não hesitaram em me mandar pro paredão de fuzilamento. Execração pública. Assustador.
A licença poética, a estética, a liberdade de expressão ficam aonde no julgamento desses "críticos" que se colocam acima do bem e do mal? Qual é o "critério artístico" invocado por esse tal de Magalhães? Arte é sentimento, é emoção, é conteúdo é interpretação. Tudo subjetivo. Quem é o Deus capaz de julgar isso, e atirar a primeira pedra? Deus não, desculpem, Deuses: Os Deuses da comissão. Só eles. Se a arte não fosse subjetiva e pudesse agradar de maneira diferente a todas as pessoas, como é que sobreviveriam ou teriam admiradores, artistas "abstratos" como Zillio, Magalhães e Cocciarale, que são membros desta comissão?
Que força, que sentimento envenenado move tantos artistas "renomados" como eles? A serviço do que, e de quem, esses senhores se expõem para a opinião pública de maneira tão perigosa, atacando covardemente meu trabalho, minha obra, minha forma de expressão como artista que sou? Eles são professores, curadores, mestres. Perdem a credibilidade sendo tão preconceituosos e violentos contra a própria arte que os sustenta. E o pior, é que eles não conseguem reconhecer naquele trabalho, a obra de arte sofisticada que é. Se eu fosse aluno deles teria medo de suas opiniões e de suas orientações.
Ao contrário do que tentam pregar como verdade absoluta, o corneteiro tem critério sim. Tem embasamento estético, gráfico, e embasamento histórico. Conta de maneira irreverente, como acontecido, a história de um corneteiro herói. Foi trabalho de uma pesquisa profunda da história do Brasil, do bairro de Ipanema e das personalidades que deram seus nomes as ruas, como Visconde de Pirajá, Garcia DÁvila, Maria Quitéria entre outros.
A verdade não é como está afirmado pelo Magalhães na matéria: "Chega o prefeito e põe a escultura de um caricaturista só porque acha engraçado". Ele sentenciou também que "a ocupação do espaço é aleatória, não tem preocupação com a qualidade e, em vez de contribuir deseduca". Fica muito feio pra esse grupo que se coloca como uma "comissão de artistas" cultos, informados e conhecedores profundos de tudo que diga respeito a arte, tentar desqualificar minha obra desta maneira, de forma truculenta, deselegante e ignorante.
Por acaso, a escultura do Corneteiro educa sim. Faz uma re-leitura de nossa bem humorada história, e, ao contrário desse grupo, sinto muito orgulho e alegria em passar naquela esquina e ver meu trabalho a serviço da arte e da cultura de meu país, e da cidade que escolhi pra viver. Tenho certeza que os moradores do bairro já consideram o corneteiro parte de seu patrimônio histórico, e o defenderão com unhas e dentes, caso necessário. Reeditaremos a "Batalha de Pirajá".
Talvez esses rançosos "artistas" da comissão achem que um abstrato, ou uma instalação criadas por eles mesmos, com alguns tijolos e arames retorcidos é mais arte do que o meu figurativo! Me parece que pra esse grupinho, figurativo não é arte, e abstrato é só a arte que eles mesmos produzem. Acho que eles esqueceram que Pablo Picasso, antes de tudo, era um mestre do figurativo com uma técnica, com um conhecimento das cores e das formas apuradíssimos. Mas se precisarem, meu filho de sete anos faz instalações incríveis na sala de casa. E não julga as instalações do coleguinha ao lado.
Na verdade esses fiscais da criatividade não se deram nem ao trabalho de analisar a peça, que tecnicamento é muito rica, tem conceito, movimento, profundidade, vida. Sou caricaturista sim, e um cartunista premiado e respeitado pelos meus 30 anos de janela. Com reconhecimento internacional. Por tudo que produzo, sou um artista plástico e escultor também. Quer queiram ou não.
Os senhores deveriam se envergonhar, pois me devem o mínimo de respeito.
Abaixo alguns momentos da criação e da convivência com minha obra.
A modelagem em argilda do estudo reduzido da peça, para aprovação da prefeitura e para servir de modelo visual para a confecção da peça em tamanho natural. Qualquer escultura tecnicamente bem fundamentada, tem seu desenvolvimento estudado em forma reduzida. Ela também vira uma peça de bronze para que a textura do material e a pátina também sejam simuladas antes de se aplicar na que vai definitivamente para a rua.
O estudo em bronze, patinado. Já se sabia nesse momento como seria o corneteiro.
Na fundição, o corneteiro Luiz Lopes sendo modelado na argila, tendo como base de referência o estudo reduzido, já em cera, a direita na foto.
Eu e minha escultura interagindo em Ipanema. Filho querido em bronze, obra importante não só para a história do Brasil, mas também para a história dos personagensa que fizeram o bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. Registro histórico da irreverência de nosso povo.Anualmente, sempre no início do mês de dezembro, as minhas expensas, faço a manutenção da peça em Ipanema preparando-a para as festividades de fim de ano. Devido a maresia, intempéries e sujeira levantada pelo trânsito frenético na Visconde de Pirajá, o bronze fica fosco, sem o brilho e sem a proteção que a peça merece.
Este trabalho, esta faxina, consome sempre no mínimo dois dias de trabalhos intensos, onde eu posso retribuir o caso de amor que tenho com cidade do Rio de Janeiro e com o Corneteiro Luiz Lopes.